Poucos rótulos portugueses carregam tanta aura quanto Pêra‑Manca. Nascido em Évora (Alentejo) e hoje guardado pela Fundação Eugénio de Almeida (Adega Cartuxa), ele é sinônimo de raridade, tradição e paciência. O tinto só sai em anos verdadeiramente excepcionais; o branco, por sua vez, projeta a elegância mineral e a fruta madura do sul de Portugal com precisão de ourives.
História e nome: da Casa Agrícola José Soares ao renascimento em 1990
O nome Pêra‑Manca remete a um topônimo antigo da região de Évora e à geografia “das pedras mancas” — blocos de rocha solta que “oscilam” no terreno, imagem que atravessou séculos. Produzido no século XIX pela Casa Agrícola José Soares, o vinho desapareceu no início do século XX e renasceu ao final dos anos 1980, quando a marca foi entregue à Fundação Eugénio de Almeida com a condição de que servisse apenas aos melhores vinhos da casa. Em 1990, o Pêra‑Manca branco inaugurou a nova era; o tinto voltaria como ícone de guarda.
Portfólio e estilos
Pêra‑Manca Tinto (DOC Alentejo — Évora)
Elaborado de Trincadeira e Aragonez, é um tinto encorpado, complexo e longevo, de fruta madura profunda, especiarias e madeira nobre muito bem integrada. Por princípio, não é produzido todos os anos — apenas quando a safra atinge o patamar que a casa considera “exceção”. A colheita 2015 foi apresentada publicamente em outubro de 2025, com 44.000 garrafas, e reforçou a fama de grande vinho de guarda do Alentejo.
Pêra‑Manca Branco (DOC Alentejo — Évora)
A expressão branca — Antão Vaz e Arinto — privilegia textura e frescor, com notas cítricas, fruta amarela, leve traço cremoso e um fundo mineral característico. É um branco de persistência e excelente gastronomia, em que a precisão de vinificação (aço e carvalho francês, com estágio sobre borras finas) entrega corpo e elegância em medidas justas.
Terroir e viticultura
A matriz está nos vinhedos próprios da Adega Cartuxa na zona de Évora, sobre solos de forte presença granítica e clima mediterrânico quente. A seleção de talhões antigos — muitos com 30–35+ anos — e rendimentos contidos explicam a concentração e a longevidade da versão tinta e a densidade cremosa do branco.
Vinificação e estágio (linhas‑mestras)
- Tinto: seleção de uvas de vinhas velhas; vinificação voltada a extração fina, seguida de estágio em carvalho(perfil francês) que respeita o tecido da fruta; engarrafado apenas quando a casa julga que a estrutura suporta longa guarda.
- Branco: fermentação repartida entre aço inox e barrica francesa a baixa temperatura; estágio sobre borras finas (bâtonnage) por até 12 meses para ganhar volume e untuosidade — sem perder nitidez e frescor.
Serviço e harmonização
- Tinto: servir a 16–18 °C; decantação longa (60–90 min) recomenda‑se nas colheitas jovens. Carnes de caça, cordeiro, rabo de boi e queijos curados revelam camadas especiadas e o núcleo de fruta negra.
- Branco: 10–12 °C; ótimo com bacalhau na brasa, cataplana de mariscos, porco alentejano, massas com frutos do mar e queijos de meia cura.
Mercado, clube e procura
Pêra‑Manca movimenta um mercado de altíssima demanda. Para organizar o acesso às colheitas raras (especialmente do tinto), a Fundação criou o Clube Pêra‑Manca, com condições exclusivas e curadoria direta da Adega Cartuxa — um indício claro de escassez planejada e de respeito ao colecionismo.
Ficha técnica (curada)
- Produtor: Fundação Eugénio de Almeida (Adega Cartuxa) — Évora, Alentejo (Portugal)
- Rótulos: Pêra‑Manca Tinto (Trincadeira/Aragonez) e Pêra‑Manca Branco (Antão Vaz/Arinto)
- Estilo: Tinto de guarda; Branco gastronômico de grande textura
- Produção: tinto apenas em anos de exceção; destaque para a colheita 2015 (lan. 2025; 44.000 garrafas)
- Vinificação: Tinto — seleção de vinhas velhas, estágio em carvalho; Branco — aço + carvalho, bâtonnage
- Terroir: Évora (solos predominantemente graníticos; clima mediterrânico)